Meninas

O documentário Meninas aborda a questão da gravidez na adolescência, sendo um retrato da condição de vida que há na extrema periferia das grandes cidades brasileiras, um território marginalizado pela ausência do poder público.

Embora pareça ser um problema que acometa somente as meninas grávidas e o futuro dos fetos em questão, acaba por ser uma problemática de toda a sociedade. Isso é, conduz o que somos como pátria, toda essa soma. Que na realidade acaba se tornando uma subtração: de sonhos, de vida e ilusão.

É um documentário do ano de 2006. As grávidas são: Evelin Rodrigues dos Santos, Luana Ferreira Santos do Amaral, Joyce Rosa e Edilene Ferreira da Silva. Pelo lado masculino é destaque apenas Alex Barbosa da Costa, um dos “grávidos”.

Até que com algum destaque, de plano de fundo há aparição de alguns pais, homens, dessas garotas. Mas basicamente prevalece somente as mães delas, evidenciado a má formação do núcleo familiar que careceu de ser melhor investigada.

Os ingredientes que levam adolescentes a ficarem grávidas são quase sempre os mesmos, desinformação. Elas até parecem conhecer alguns métodos contraceptivos, especificamente o da camisinha, mas ocorre que simplesmente não percebem a problemática de uma gravidez mal planejada e então agem por descuido “consciente”.

Em muitas cenas vemos o foco da direção do filme em exibir “uma criança cuidando de outra criança”, quando muitas vezes podemos observar que já é herança das próprias mães dessas grávidas. Ou seja, por trás de uma adolescente grávida temos muitas vezes a mãe ora adulta que também foi uma adolescente grávida.

A questão dos homens adolescentes “grávidos”, que muitas vezes abandonam os filhos, é nitidamente percebida. Deve-se mais uma vez ao completo abandono de políticas públicas, sendo que para o homem é mais natural e de costume social o afastamento. O pagamento de pensão não transformam esses meninos em pais verdadeiros, popularmente “pai é quem cria”.

A sociedade, como um todo, paga por essas milhares de crianças que chegam ao mundo em lares desestruturados. Inclusive, no final é mencionado que a Evelin ficou viúva aos 13 anos em virtude de confronto com a polícia. Esse feto, quem sabe, pode repetir o mesmo caminho que esse meio de vida permite. Enquanto segue ao “sabor do vento” sem inflexão pública.

O Alex quer assumir, mas percebemos o quanto é inútil tal empreita. Já Edilene foi embora, até porque havia sido mais fácil voltar e ficar “embaixo das asas” da mamãe. A desculpa era outra, mas já estava nos planos da avó recepcionar a filha. É praticamente uma receita de bolo, que com tais ingredientes os experientes conseguem prever no que vai dar.

Esse é o modelo familiar que temos hoje na grande maioria das famílias brasileiras. Saiu de cena aquele modelo familiar em que o núcleo era pai, mãe e filhos. Entrou tem algumas décadas o modelo avó, mãe e netos. Deixou de existir nos lares o predomínio do Pátrio Poder, viramos um sociedade com lares governados por mulheres.

Não era minha intenção de redigir uma redação de cunho machista, pelo contrário, mas é que eu encontro nessa problemática uma relação direta da pouco presença masculina nos lares. Havia um tempo que “o pai fazia casar” quando simplesmente a filha perdia a virgindade antes do casamento.

Hoje sexo é banal e as separações são mais comuns que os casamentos. Não defendo que as pessoas sejam obrigadas a ficarem juntas, mas “ao primeiro sinal de fumaça elas fogem e não ficam para controlar o fogo”. É que carece das pessoas assumirem as consequência dos próprios atos. Pois, avós cuidarem de netos e mães destes, é uma situação que não serve de aprendizado.

As crianças não sabem qual é a consequência de terem filhos, não fazem ideia de qual futuro estão abrindo mão. Aliás, a vida hoje na periferia é na base da inconsequência de modo geral e o resultado não poderia ser outro. As adolescentes grávidas muitas vezes pensam que ter filhos é uma brincadeira. Pagam um preço caro sem saber e muitos pagam junto, a sociedade paga também.